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sábado, 17 de julho de 2010

La nuit dernière, notamment disgrâce!


O som do despertador lotou o quarto de qualqer música irritante lembrando que mais um dia amanhecia. O lençol permanecia intacto, como se nem o ar tivesse passado pelo quarto aquela noite. E não passou.
A janela meio aberta entregava que não fora pela porta que havia entrado. O cheiro de fumaça de qualquer tipo de cigarro barato era mais forte do que o oxigênio ali dentro, e os pés de sapatos espalhados mostravam o quão sóbria tinha ido dormir, se é que dormiu.
Algum ruído estranho conseguia ser maior que o som infernal do despertador, olhava para os lados e não encontrava de jeito nenhum o dinossauro que devia estar escondido ali por perto. Rindo percebeu que era apenas o som típico de um estômago sem nada sólido fora as tripas.
Totalmente sem saber o que estava fazendo, levou a mão a cabeça e sentiu uma dor profunda, como se algo tivesse arrebentado aquele pedaço cheio de cabelo manchado de tinta. De uma forma doentia, gostou de saber que pelo menos ainda sentia seu corpo, ou pelo menos a sua dor.
O jeans rasgado estava com o zíper aberto, nada anormal analisando os dias e noites de intensas aventuras com seus pouco mais de duzentos casos. A blusa de frio já não a pertencia mais, devia ter fugido enquanto ainda havia tempo, e o que estava por baixo ? estava mais embaixo do que deveria estar.
O espelho estava perto. A maquiagem borrada e a cara de boneca de plástico derretida assustavam mais do que qualquer filme de terror, que por ventura eram os seus preferidos.
Com muito esforço tentava se lembrar de algo, e mesmo que sentisse que uma mera recordação brotasse devagar, a mesma ia embora com tanta velocidade que mal dava tempo de perceber que tentou se recordar. Com muito mais esforço ainda, levou a mão no bolso e encontrou um pedaço de guardanapo de papel sujo de algum molho nojento : - 'Qualquer uma, seria melhor que você'. Se afogando em gargalhadas sonsas, lembrou vagamente da noite anterior.
Tirando a roupa devagar resolveu tomar um banho, precisava tirar do corpo aquele resto de noite passada. Noite mal acabada.
Sentia um aperto quando pensava no 'qualquer uma seria', mas o mesmo aperto se tornava mais engraçado que qualquer piada do mundo, e nenhuma lágrima seria percebida se escorresse junto com o rímel e a água do chuveiro.
Maldita liberdade, malditos vícios, maldito livre arbítrio.
Saiu do banho. Ainda molhada, nua e com um arrepio descomunal deitou na cama. Sentiu o lençol frio, abraçou um travesseiro alto e dormiu.
Apenas dormiu.

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